Ontem, saí do cinema pensativa e fazendo ligações com a minha profissão, o jornalismo. Fazia tempo que isso não acontecia. Mas vi “A Caça” e fiquei atordoada. Não há jornalistas no filme, mas a trama me lembrou muito uma antiga pedra no sapato da profissão: o caso da escola Base, localizada na zona sul de São Paulo.
Mads Mikkelsen, ator dinamarquês que levou o prêmio de melhor ator do Festival de Cannes por este longa, interpreta (lindamente) um bedel de uma escola infantil que é acusado de abuso sexual no seu local de trabalho.
A trama é tão bem construída que consegue mostrar os lados de todas as pessoas envolvidas nesta situação sem julgamentos e, também, as prováveis reações que cada uma, do seu lado da história, teria.
Por que isto me lembrou a escola Base? Bem, naquela ocasião, há cerca de 20 anos, foi dada voz às acusações e nunca a quem estava sendo acusado. A família que administrava o colégio não teve como se defender. O mesmo acontece com Lucas, personagem principal de “A Caça”.
A imprensa, que deveria sempre se preocupar com o outro lado, e a população julgaram o fato e condenaram a família da escola Base sem esperar pela Justiça. Resultado: por mais que depois ficou comprovado que eles não tinham culpa, a fama de culpados já estava disseminada. A escola foi fechada e depredada e os donos nunca mais se recuperaram. Ainda hoje eles sofrem com as doenças que todo este imbróglio causou.
No filme, a certeza de que as acusações contra Lucas deixarão marcas até o fim dos dias dele é clara.
Uma história muito bem construída que coloca em cheque o que julgamos verdade, apesar da falta de provas, e, além disso, a sede incessante de fazer justiça com as próprias mãos, inflamado pelo ódio.
Outro ponto que o filme deixa como reflexão é: devemos mesmo espalhar suposições ou acreditar em tudo que ouvimos sem dar chance ao outro lado?
Filme bom é aquele que te faz pensar por muitos dias depois de sair da sala de cinema. Recomendo.